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até que esgotem
Escondida no meio dos dramas da bola, das tragédias da chuva e das farsas da política, passou-me despercebida a notícia da morte de Angelo Badalamenti, um compositor com visibilidade algo discreta mas que será recordado como um dos grandes.
Angela Landbury em The Company of Wolves
Um colega de escola costumava dizer-me que se alguma vez se cruzasse com Jessica Fletcher, a protagonista de "Crime, Disse Ela", fugiria como do Diabo porque as pessoas tendiam a morrer como moscas à sua volta.
O Sapo faz um resumo da longa carreira de Angela Lansbury, exercício sempre algo ingrato pela necessidade de condensar 80 anos em dois ou três ecrãs de texto (o limite de atenção do internauta-padrão), mas parece-me injusto não haver nem uma menção a um adorável filmezinho de culto de 1984 chamado The Company of Wolves. Na cultura popular, Angela Lansbury será sempre Jessica Fletcher. Eu, quando penso nela, é primeiro como aquela avozinha cheia de superstições licantrópicas.
Secretary [2002] de Steven Shainberg
(*) Agora no dia certo.
Abafada pelo burburinho noticioso, passou-me despercebida a morte, na segunda-feira, de Jean-Paul Belmondo, um ícone cool francês. Foi pugilista amador; quis ser palhaço; viveu com Ursula Andress (que nunca o esqueceu); foi um dos rostos da Nouvelle Vague; representou para vários dos grandes realizadores do cinema europeu; e mostrou-se tão confortável nos palcos de teatro como aos saltos e piruetas num carro.
Viveu uma vida bem vivida.
Village of the Damned (1960) de Wolf Rilla
Uma curiosidade: Martin Stephens, que interpretou o líder do gangue de fedelhos alienígenas, abandonou a representação aos 17 anos, seguiu uma carreira na arquitectura e vive em... Portugal.
Zorba, o Grego (1964) de Michael Cacoyannis
Serve a presente para informar os potenciais interessados que hoje, às 15:00, a RTP Memória irá transmitir o clássico do film-noir Double Indemnity (Fred MacMurray, Barbara Stanwyck, Edward G. Robinson, James M. Cain, Billy Wilder, Raymond Chandler... ter todos estes nomes envolvidos num filme é uma tempestade perfeita de talento e coolness).
Aproveitemos, enquanto podemos, o serviço público prestado por este canal - pois está, talvez não por acaso, com uma espada em permanência sobre a cabeça.
Angelo Badalamenti explains how he wrote Laura Palmer's Theme
Blade Runner foi filmado, sem um único fotograma gerado por computador, há 40 anos. Quarenta! Muitos dirão que aquele mundo continua hoje a parecer real e palpável apesar de não haver CGI. Eu digo de outra forma: continua hoje a parecer real e palpável precisamente por não haver CGI.
Q: Good to see you Mr. Bond. Things've been awfully dull 'round here. Bureaucrats running the whole place. Everything done by the book. Can't make a decision unless the computer gives you the go ahead. Now you're on this, I hope we're going to have some gratuitous sex and violence!
James Bond: I certainly hope so too.
Não penso ser possível fazer justiça a Sean Connery num par de parágrafos - por isso nem o vou tentar.
Considero a mais eloquente prova do talento de Sean Connery o facto de, apesar de ter sido o primeiro (e para muitos, incluindo este escriba, o melhor) James Bond, ter conseguido que isso fosse apenas uma das alíneas de um invejável currículo. Filmou com grandes realizadores como Sidney Lumet, Brian de Palma, Hitchcock e Spielberg. Representou um personagem de Umberto Eco. Participou em clássicos como Um Crime no Expresso do Oriente; épicos como A Bridge Too Far; bizarrias como Zardoz; pequenas preciosidades como Robin and Marian; falhanços como The Avengers e atrocidades como The League of Extraordinary Gentlemen. No fim disto tudo, recordo muitos grandes filmes, vários maus filmes que ele não conseguiu salvar - mas nenhum que tenha sido mau por causa dele. E possuía a saudável auto-estima para, depois de ter sido este:
(imagem promocional de Goldfinger)
fazer um filme nesta toilette:
(Zardoz)
Vi-a como Tracy di Vicenzo no injustamente vilipendiado On her Majesty's Secret Service, Edwina Lionheart no divertidamente macabro Theatre of Blood e Rainha numa quase despercebida versão da Branca de Neve. Mas será sempre como a Emma Peel d'Os Vingadores que a recordarei: "a mulher perfeita" (palavras de um vilão que teve a imprudência de a enfrentar e com as quais não posso senão concordar).
Diana Rigg morreu hoje: uma senhora nos palcos, nos grandes e pequenos ecrãs - e na vida.
Pepe Le Pew em A Scent of the Matterhorn (1961)