O bom cinema de terror é um prazer pelo catártico da experiência. Há bastantes, principalmente no grupo dos cinéfilos, que olham com desdém para o género. Eu, pelo contrário, acredito que o bom cinema de terror é o mais complexo de criar: comover é fácil, assustar é fácil, enojar é fácil - mas insinuar no espectador uma sensação de "desconforto" perante algo que ele sabe, conscientemente, não ser real, não está ao alcance de qualquer tarefeiro.
Quanto aos bilhetes: é verdade que as máquinas da gráfica têm estado paradas sem nada para editar. Haver esboços, espalhados pelos sótãos da memória e dos cadernos, há - e variados. Mas têm esbarrado na longura das noites invernosas que tendem a invocar a melancolia; e a melancolia tende a apelar ao silêncio; e o silêncio tende a atrair o isolamento.
Gostei desta explanação acerca dos filmes de suspense e terror. Concordo inteiramente com a sua opinião. Sabemos que nada daquilo é real, mas o medo insinua-se em nós e agarra-se-nos à pele.
Não me lembro em que cinema vi este filme, mas claro que o vi. O "The Fog", sei eu que o vi nas sessões da meia-noite do Quarteto. Naquelas em que se pagava um bilhete e eles passavam dois filmes. Depois de uma sk8tada na Alameda e um cone com cobertura na Gelataria Surf, não havia melhor. Grandes 80's :) Do "The Fog", ficou-me para sempre a voz da Adrienne Barbeau: "Ahoy, mateys. This is KAB, Antonio Bay. Stevie Wayne, here, beaming a signal across the sea. For the men in the 'Sea Grass', a warm hello and keep a watch out for that fog bank, heading in from the west. In the meantime, relax with me..." :)))) Já não há filmes de terror como os do Carpenter. Agora chamam terror a violência gratuita com efeitos especiais.
O Nevoeiro é um filme muito desvalorizado do mestre e tem (mais) uma boa banda-sonora de sua autoria. Eu penso que, além de não se falar tanto da sua filmografia como é merecido, ainda menos vezes é recordada a sua competência como músico. A banda-sonora do Prince of Darkness, outro filme injustamente negligenciado pela memória colectiva, é um dos discos que mais vezes ouço e funciona muito bem como "obra conceptual", sem necessitar do suporte das imagens para as quais foi composta. Não creio que tenha sido por mero "golpe publicitário" que Jean-Michel Jarre convidou John Carpenter para o seu disco de colaborações de há um punhado de anos.
(E sim, a voz de Adrienne Barbeau n'O Nevoeiro é suficiente para o filme merecer uma bolinha no canto do ecrã.)
Felizmente, não sou tão pessimista: acho que ainda se consegue descobrir bom cinema de terror que vive da "atmosfera" em vez da simples "sangueira". O cinema asiático, por exemplo, tem uma grande tradição no género.