Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
até que esgotem
O canal MOV chega hoje ao fim. Tenho pena. Eu gostava bastante deste canal. O MOV tinha tudo. Podíamos ver um clássico como Dune seguido da magnificamente péssima saga Leprechaun; tanto transmitia o inquietante e injustamente desconhecido Take Shelter, como o jean-claude-van-dammiano Universal Soldier Regeneration. Os responsáveis pela programação do canal pareciam partilhar comigo o amor ao cinema/televisão como meio de criação artística no seu grau mais elevado - mas também como fonte de uma hora ou duas durante as quais pudesse abafar o ruído das memórias num entretenimento acéfalo e manhoso (com tudo o que de bom a palavra "manhoso" tem).
Hoje é, portanto, o último dia. Para encher as últimas horas de emissão, estão a retransmitir a inócua série Taxi Brooklyn protagonizada pela (nada inócua) Chyler Leigh. Eu bem digo: o MOV conhecia-me de ginjeira...
O sol a entrar pela janela antes das sete da manhã.
O sol a entrar pela janela depois das sete da tarde.
Escolher um banco à sombra no jardim.
A algazarra dos pássaros na mata defronte da minha casa.
O voo das andorinhas por entre os prédios do bairro.
A comichão no nariz causada pelo pólen.
As pessoas coradas e suadas que, todos os anos, se recordam com os primeiros calores de que o Verão está aí à porta e tentam freneticamente, em corridas desajeitadas e arquejantes, derreter os quilos acumulados durante a inércia dos restantes meses.
"Já vou" é completamente diferente de "vou já".
"(...) tive ali um bocadinho tipo - ya! - bué da desconfiado (...)"
Após quase um ano, e mesmo ciente da inutilidade de tal gesto, continuava a olhar para a sua ausência como um náufrago que, todas as manhãs, se senta num rochedo a perscrutar o horizonte. Até que um dia, quando já estava prestes a desistir, a imensa espera chegou ao fim - mas o barco seguiu indiferente como se a ilha estivesse deserta.
De manga curta num dia de Inverno. Se isto não é uma estreia para mim, anda lá perto.