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até que esgotem
Não gosto nada que me dêem razão. Sempre que me dão razão, é porque antecipei correctamente um cenário negativo. Um pessimista como eu quer sobretudo não ter razão.
[Pedro Mexia, Fora do Mundo e Prova de Vida]
[Vampires de John Carpenter]
Ele notou, alvoroçado, que a miúda gira estava a olhar para ele insistentemente. Depois pensou, descoroçoado, que a miúda gira também olharia insistentemente para um acidente na auto-estrada.
"Não sei. É como descrever a cor a um cego. Ele não pode perceber."
(in "Irrealidades Virtuais" de Alfred Bester)
Imaginei o oposto: "Não sei. É como descrever ser cego a quem vê. Ele não pode perceber". Quem vê pode saber o que é estar cego - basta fechar os olhos. Mas quem vê, se o fizer, sabe também que lhe bastará abrir os olhos para regressar ao mundo tal como o conhece. E isso não o fará perceber o que é ser cego.
Olhemos bem para Vénus: tem uma atmosfera composta por 96% de dióxido de carbono e tão densa que, à superfície, a pressão é 92 vezes maior do que na Terra; está completamente oculto por um espesso manto de nuvens de ácido sulfúrico; o efeito de estufa é tão intenso que a temperatura mínima na superfície ronda os 460º C.
Dificilmente se conseguiria imaginar local mais hostil. Parece-me, por isso, quase premonitório que os Antigos, sem saberem tais factos, tenham dado a este planeta capaz de asfixiar, esmagar, corroer e assar um homem - o nome da deusa do amor.
I take a bottle of wine and I go drink it among the flowers.
We are always three - counting my shadow and my friend the shimmering moon.
Happily the moon knows nothing of drinking, and my shadow is never thirsty.
When I sing, the moon listens to me in silence. When I dance, my shadow dances too.
After all festivities the guests must depart; this sadness I do not know.
When I go home, the moon goes with me and my shadow follows me.
(Li-Po, séc. VIII - tradução J. C. Cooper)
Se há gadget próximo da perfeição, esse gadget é o papel: barato; nunca fica sem bateria; reciclável; não estala ou avaria com uma queda de dois palmos; não fica infectado com malware; não precisa de actualizações de segurança diárias; não "pendura" a meio de um documento de seis páginas que nos esquecemos de gravar; não demora um minuto a ligar - abre-se e está pronto; não se transforma num tijolo inútil se falhar o sinal wifi ou 3g; e se dermos por nós sem espaço para gravar mais informação, basta entrarmos numa qualquer papelaria e resolvemos o problema com uma moeda de euro.
Guilty pleasure: algo de que gostamos mas com a consciência de que não devíamos gostar.
[de Blade Runner]
Recordo-me de pensar no (então ainda longe) ano 2000 como um futuro remoto, um ano com três zeros a orná-lo de um misticismo muito próprio. Agora? Agora reparo que, quase sem dar por isso, já vamos a meio da segunda década do século XXI.
Via Francisco José Viegas, chego com atraso a esta notícia: "Grego e Latim vão ser opções desde a primária". Uma das justificações do Ministério para tal medida chamou-me particular atenção:
"... pela função desse conhecimento na aprendizagem de valores fundamentais da língua portuguesa (...)"
Serei o único a achar irónico que o Ministério da Educação diga isto quando o Acordo Ortográfico, que o mesmo Ministério impõe como norma, despromoveu a etimologia da grafia em favor de uma oralidade perfeitamente arbitrária?